01
A autonomia de uma secção do Sport Club Vianense
Em Março de 1898, aquando das reuniões preparatórias para a organização do Sport Club Vianense, o Tiro é incluído nas modalidades que os sócios fundadores decidiram salientar como importantes, no arranque da atividade desportiva do clube. E assim foi criada estatutariamente uma atividade desportiva neste clube centenário, cujo desenvolvimento pode ser acompanhado até aos nossos dias, pela consulta de notícias recolhidas em jornais e publicações consultadas. Numa das notícias mais antigas a que tivemos acesso, constatamos que em Setembro de 1924 se realizou, na carreira de tiro de Viana do Castelo um concurso de tiro de atiradores civis, destacando-se os atiradores do Sport Club Vianense: José António Parente Ribeiro (1º classificado), Agostinho Pinto do Couto, Tomás Simões Viana, José Fernandes Martins e José Teixeira.
Em fevereiro de 1925, a secção de tiro do Sport Clube Vianense vê os seus estatutos aprovados, passando a designar-se Sociedade de Tiro, incluindo nas suas atividades a esgrima e a ginástica. Estes estatutos são aprovados pelo Ministério da Guerra que atribui o n.º 27 a esta secção de Tiro, filiando-se a Sociedade de Tiro n.º 27, na Federação Portuguesa de Tiro. Ainda em Março, do mesmo ano, é eleita, pelos 87 seccionistas registados, a direção da Sociedade que passa a ser composta por: Tomás Simões Viana, presidente; José Joaquim de Pinho, secretário; José Francisco Baptista, tesoureiro; José Maria de Oliveira Lima e Francisco Gonçalves Calheiros, vogais. A recém criada Sociedade de Tiro n.º 27, anexa do Sport Club Vianense, promove em Outubro de 1925 um concurso na carreira de tiro, nas modalidades de 300 metros na posição de deitados, de joelhos e em pé e de 200 metros à vontade. Na primeira destas provas a classificação ficou ordenada, para o Grupo (a), com: Erick Basto, Tomás Simões Viana, Carolino Ramos, Manuel de Passos Rodrigues, José Francisco Baptista e José António Pinheiro; para o Grupo (b), com: José de Pinho e Manuel da Cunha Peixoto; e para o Grupo (c), com: Constantino Encarnação, António Pernil e Cândido Feio. Na segunda destas provas classificaram-se, por esta ordem, Constantino Encarnação, Erick Basto, José Francisco Baptista, António Pinho, José António Parente Ribeiro, Tenente Francisco Mamede, Tenente Alves, e Manuel de Passos Rodrigues. Em 1926 a Sociedade de Tiro n.º 27 passa a ter um conselho técnico composto, de início, pelo Major Bacelar, pelo Capitão João Soares Brandão e pelo Tenente José Puga, conselho esse que em 1927 passa a ser constituído pelo Major Nicolau Bacelar e pelos Capitães Francisco Gonçalves Calheiros e Gaspar Cerqueira. Depois de ter ganho troféus importantes como a Taça Braga, os sócios da Sociedade de Tiro n.º 27 elegem uma nova direção em 1927, sendo composta por: Tomás Simões Viana, a presidente, Humberto Enes Ramos, a tesoureiro, António de Passos Pinho a secretário e Alfredo Simões e José Joaquim de Pinho, a vogais. Em Outubro do mesmo ano, Carolino Ramos ganha o Campeonato de Portugal de Tiro, com espingarda de guerra, tendo tido uma receção a condizer, na gare da estação, conforme reza a imprensa.
Continua este período a ser profícuo para o tiro em Viana e para a Sociedade de Tiro n.º 27 anexa ao Sport Clube Vianense. Formam-se várias equipas de tiro em representação do Sport Clube Vianense e em Agosto de 1928 a Sociedade de Tiro n.º 27 ganha a Taça Câmara Municipal de Viana do Castelo, na carreira de tiro de Santa Luzia. Aí, ficam nos primeiros três lugares, três equipas da Sociedade de Tiro, em 4º lugar a Sociedade de Tiro n.º 23, do Porto e em 5º lugar a Sociedade de Tiro de Espinho. Logo em Setembro do mesmo ano, no Campeonato Regional do Norte, os atiradores da Sociedade de Tiro n.º 27 obtiveram sete primeiras classificações em espingarda de guerra. O atirador do clube de Viana, Manuel de Passos Rodrigues bateu o record nacional que estava em 211 pontos, com a pontuação de 219 pontos, o que dava uma média de 7,3, "digna de um internacional". O campeão de Portugal, Carolino Ramos, também deste clube, classificou-se em 2.º lugar com 200 pontos. Como para concorrer à final do Campeonato de Portugal eram necessários 180 pontos no mínimo, a Sociedade de Tiro n.º 27, de Viana, teve quatro atiradores apurados. Os dois primeiros, mais o jovem António Martins, com 194 pontos e Erick Basto (que lutava contra a falta de vista), com 185 pontos. Na prova de pistola de guerra classificaram-se Guilherme Mesquita, do Porto com 180 pontos e em 2º e 3º lugares José António Parente Ribeiro e João Cavalheiro, de Viana, com 177 e 175 pontos respetivamente. Como vemos, esta modalidade anexa ao Sport Clube Vianense tornara-se numa modalidade forte, com um invejável palmarés, capaz de enobrecer o nome do clube que lhe dava guarida, tornando-o, por outro lado, orgulhoso dela. Entretanto, já em 1929, se procurava, através de regulamentações estatutárias, regular com cuidado as relações entre a Sociedade de Tiro n.º 27 anexa ao Sport Clube Vianense e este Clube. No mês de Junho deste mesmo ano, sucedem-se as assembleias gerais da Sociedade, no sentido de protestar contra a forma como a direção do Sport Clube Vianense lida com a secção de tiro. Este processo culminou com a escolha de uma comissão administrativa que gerisse os destinos da Sociedade dentro do Sport Clube Vianense, presidida pelo Doutor António Carlos Ribeiro da Silva e composta pelo Tenente David Borges, por Júlio da Costa Couto, por António Pinho e por Armando da Natividade Casaca, sendo aprovada uma reforma de Estatutos. Contudo, algum tempo passado, por proposta elaborada por Manuel Dias, foi efetivada a desanexação da Sociedade de Tiro n.º 27 do Sport Clube Vianense, sendo disso dado notícia à Federação Nacional de Tiro.
Em reunião de 16 Setembro do mesmo ano, em reunião da comissão administrativa da Sociedade, é dada a informação de que o Diretor Interino da Arma de Infantaria reconhece as deliberações da assembleia geral, estando de acordo com a independência da Sociedade face ao Sport Clube Vianense, aprovando os seus novos estatutos. Por fim, em 28 de Abril do ano de 1930 é dado conhecimento, em reunião da comissão administrativa da Sociedade de Tiro, da entrega pela direção do Sport Clube Vianense à Sociedade, dos haveres daquela sociedade, ainda à guarda do Clube. Não podemos, no entanto, deixar de referir o elevado valor prestado ao desporto em geral e ao Tiro em particular pelo Sport Clube Vianense, com a ideia de instituir em 1898 a modalidade como fator de desenvolvimento clubístico e mais tarde, em 1924, arrancar, de forma organizada, com esta modalidade.
02
Um novo clube em Viana - Autonomia, abrandamento e renascimento
Desta forma, a partir de finais dos anos vinte e inícios dos anos 30 do século XX, passou Viana do Castelo a contar com mais uma associação desportiva independente, existente, aliás por direito próprio, dada a regulamentação militar deste tipo de instituições desportivas ligadas ao tiro de guerra. Até 1936, a atividade da Sociedade de Tiro n.º 27 processou-se de forma, normal, como nos informam as atas da direção, onde tomamos contacto com aspetos da vida da sociedade, quer no que respeita a competições, à adesão e à exclusão de associados, ou às relações com outros clubes de Tiro, de Portugal e da Galiza
Há, entretanto, notícias (“A Aurora do Lima, de 18/02/1949”) que nos dão conta de a Sociedade de Tiro n.º 27 “depois de ter suspendido a atividade há 12 anos, a ir retomar, tendo-se constituído uma comissão administrativa composta por José Carteado Monteiro, José Joaquim de Pinho e pelo Dr. Manuel Lourenço dos Santos. Em notícia sem data consta, também, nos arquivos da Sociedade de Tiro o feito da atiradora desta sociedade, Maria Alpuim, de 18 anos, vencer o campeonato nacional de espingarda de guerra de nacional de espingarda de guerra (juniores), numa competição na serra da Carregueira, em que outros atiradores da Sociedade de Tiro — Jorge Silva e J. Luís Bacelar - arrecadaram os 5º e 8º lugares. Sabemos que, em finais da década de 60, princípios da década de 70, do século XX, a atividade de tiro conheceu alguma atividade junto à camada jovem. Essa atividade de tiro de carabina de guerra era desenvolvida na carreira de tiro militar de Viana, com espingardas Mauser, fornecidas pelas forças militares aquarteladas na cidade e com orientação, entre outros, do saudoso Ribes de Matos. Contudo, em Janeiro de 1996, reúne-se a direção da Sociedade de Tiro.de Viana do Castelo, ex-Sociedade de Tiro n.º 27, constituída por Ribes de Matos, Raúl Videira, José Augusto Freitas Lomba e António Telmo Botelho, no que pode ser considerada a primeira reunião dos órgãos diretivos da Sociedade de Tiro de Viana do Castelo (STVC), numa nova fase da associação.
Na ata dessa primeira reunião, após algum tempo de falta de registos associativos, é reconhecida a inatividade da sociedade, tendo sido referido que entre o ano de 1993, ano do falecimento do veterano atirador Albano Rocha da Torre e o ano de 1995, são retomados os contactos com a Federação Portuguesa de Tiro, tendo ganho forma o “renascimento” da STVC, a partir do esforço e da vontade de alguns antigos praticantes da modalidade. Entretanto, o Tiro Desportivo evoluiu com a competição em pressão de ar e com a introdução do tiro de bala com calibre .22. O Tiro passa a atividade desportiva civil, não dependendo da tutela militar, sendo a Federação Portuguesa de Tiro remodelada. É feita, nesse sentido, a escritura pública de uma associação desportiva sem fins lucrativos, como tantas outras. Novos elementos vão entrando na Sociedade de Tiro de Viana do Castelo, sendo os novos estatutos aprovados e registados no Diário da República. O Ano de 1996/97 é assim o ano do “renascimento” da STVC, legítima herdeira da Sociedade de Tiro n.º 27. Entretanto, a STVC vai-se mostrando à comunidade que a viu nascer e renascer e os campeões continuam. Destacamos, neste sentido, na época de 2000/01, o título de campeão da 2.º Divisão Nacional de Pistola de Ar Comprimido (PAC), obtido pelo professor RUI PARENTE e o 2º lugar no campeonato nacional da 2º Divisão de Carabina, de Ar Comprimido — Precisão (CAC), arrecadado pelo Capitão BENTO PAULO, ambos atiradores da Sociedade de Tiro de Viana do Castelo, nestas duas modalidades olímpicas.
Cumpridos e celebrados os 75 Anos da Sociedade de Tiro de Viana do Castelo, no ano de 2000, estamos a caminho dos 100 anos, no ano de 2025, tendo nestes últimos anos, a STVC consolidado e reforçado a sua posição na atividade desportiva. Por um lado, assistimos a uma mudança de instalações e a um processo de construção de uma Carreira de Tiro com bala, em parceria com a Comissão de Baldios de Areosa; por outro lado, foi reforçada a posição da STVC no domínio do Tiro Desportivo no norte de Portugal, integrando a ARTN – Associação Regional de Tiro do Norte, assim como a entrada em novas disciplinas, entretanto assumidas – Tiro Dinâmico, Tiro com Arco, Benchrest, Field Target e percursos com Armas de Caça, com resultados notáveis a nível nacional.
Nota bibliográfica: As referências à secção de tiro do Sport Club Vianense são retiradas de : VIANA; R., PEIXOTO, M. e SILVA, P. P., "Vianense, 100 Anos de História em Datas. 1898/1998, Ed. do Sport Club Vianense, Viana do Castelo, 1998.
José Escaleira
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